domingo, 23 de março de 2008

“Mas eu denuncio. Denuncio nossa fraqueza, denuncio o horror alucinante de morrer – e respondo a toda essa infâmia com – exatamente isto que vai agora ficar escrito - e respondo a toda essa infâmia com a alegria. Puríssima e levíssima alegria.
A minha única salvação é a alegria.”

(Clarice Lispector)

sábado, 22 de março de 2008

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada.
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

(Vinícius de Moraes - Ausência)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Futuro de uma delicadeza
“– Mamãe, vi um filhote de furacão, mas tão filhotinho ainda, tão pequeno ainda, que só fazia era rodar bem de leve umas três folhinhas na esquina...”

(Clarice Lispector)
"As pessoas que se comprazem no sofrimento, que gostam de sentir-se infelizes e fazer aos outros infelizes, jamais poderão orgulhar-se de sua beleza. O mau humor, o sentimento de frustração, a amargura marcam a fisionomia, apagam o brilho dos olhos, cavam sulcos na face mais jovem, enfeiam qualquer rosto. Essa é a razão porque a mulher, que cultiva a beleza, deve esforçar-se para ser feliz.Felicidade é estado de alma, é atmosfera, não depende de fatos ou circunstâncias externas.”

(Clarice Lispector)
“O que tem me perturbado intimamente é que as coisas do mundo chegaram para mim a um certo ponto em que eu tenho que saber como encará-las, quero dizer, a situação da guerra, a situação das pessoas, essas tragédias. Sempre encarei com revolta. Mas ao mesmo tempo sinto necessidade de fazer alguma coisa, sinto que não tenho meios. Você diria que eu tenho, através do meu trabalho. Eu tenho pensado muito nisso e não vejo caminho, quer dizer, um caminho verdadeiro.”

(Clarice Lispector)
“O que tem me perturbado intimamente é que as coisas do mundo chegaram para mim a um certo ponto em que eu tenho que saber como encará-las, quero dizer, a situação da guerra, a situação das pessoas, essas tragédias. Sempre encarei com revolta. Mas ao mesmo tempo sinto necessidade de fazer alguma coisa, sinto que não tenho meios. Você diria que eu tenho, através do meu trabalho. Eu tenho pensado muito nisso e não vejo caminho, quer dizer, um caminho verdadeiro.”

(Clarice Lispector)
“Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia – a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la –, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me mesmo seja de novo a mentira que vivo.”

(Clarice Lispector)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

"Mas há a vida que é para ser intensamente vivida, há o amor.Que tem que ser vivido até a última gota.Sem nenhum medo. Não mata."

(Clarice Lispector)

"Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranha sde onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito. O clímax de minha vida será a morte.Q uero escrever noções sem o uso abusivo da palavra. Só me resta ficar nua:nada tenho mais a perder."
(Clarice Lispector)

"O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço (...) Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações."

(Clarice Lispector)
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."

(Clarice Lispector)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

"Tudo silencia
Ouço só meu coração
A rua acaba e meus sonhos vão.
Piso na poça, uma moça estende a mão
Meus olhos brilham, vejo o céu no chão
Ergo as mãos pro alto
Nos meus dedos, os anéis
Flores crescem no asfalto debaixo dos meus pés..."

(Zeca Baleiro)
Eu já vi esse rosto antes
Nas sombras de outras luzes
Eu já vi esse rosto antes
Nas sombras de outras luzes
Esse olhos já me olharam
De maneira diferente
Numa paisagem distante
O futuro a nossa frente, antes
Em cada esquina, um romance
Pelas verdades banais
Pelas mentiras brilhantes
Já esqueci esse rosto antes
Mas agora ao relembrar
Quero te encontrar
Com as mesmas primeiras palavras
Dos novos amantes
Eu já vi esse rosto antes
Nas sombras...

(Zeca Baleiro)
Poderíamos ter nos dado tão bem juntos
É, tão bem juntos
Te conto mentiras
Eu te conto mentiras maldosas
Te conto sobre o mundo que vamos inventar
Um mundo devasso sem lamentações
Empreendimentos, expedições
Convites e invenções
O tempo de espera diminui o prazer
Decapita os anjos que você destrói
Anjos brigam, anjos choram
Anjos dançam e anjos morrem
Poderíamos ter nos dado tão bem juntos
É, nós poderíamos, sei que poderíamos...

(The Doors - We Could Be So Good Together)
Acho que eu não tenho a criatividade suficiente pra escrever coisas. Então, baseada na minha idolatração pelos grandes mestres escritores (opinião minha) vou escrever pouco. Vou escrever aqui só aquilo que me agrada. Às vezes de minha autoria. Às vezes não. Dormir, sorrir, cair...

Mas a girafa era uma virgem de tranças recém-cortadas. Com a tola inocência do que é grande e leve e sem culpa. A mulher do casaco marrom desviou os olhos, doente, doente. Sem conseguir - diante da aérea girafa pousada, diante daquele silencioso pássaro sem asas - sem conseguir encontrar dentro de si ponto pior de sua doença, o ponto mais doente, o ponto de ódio, ela que fora ao Jardim Zoológico para adoecer. Mas não diante da girafa, que era mais paisagem do que ente. Não diante daquela carne que se distraía em altura e distância, a girafa quase verde. Procurou outros animais, tentava aprender com eles a odiar. O hipopótamo, o hipopótamo úmido. O rolo roliço de carne, carne redonda e muda esperando outra carne roliça e muda. Não. Pois havia tal amor humilde em se manter apenas carne, tal doce martírio em não saber pensar.

(Clarice Lispector)


Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos vazios
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face ?

(Cecília Meireles)
Cansada... cansada demais. Eu pretendia mudar tudo e agora não mudo mais nada. Tem noção do que é querer sempre ser a melhor e não adiantar ? E não conseguir ? Eu estou pra enlouquecer com esse mundo estressante. Realmente, nem sei mais o que eu quero, o que me agrada. Passar o dia todo pensando é bom, mas se torna cansativo. Eu procuro ver até onde vou chegar. Acho que não vou tão longe. As coisas perdem o sentido tão rápido. Por que é tudo assim ? Mundo sem graça. Mundo fechado. Não é que tudo seja tão deprimente, é que todos tornam as coisas assim. E ninguém consegue mais viver harmoniosamente com o resto das pessoas. Coisas sem nexo. Sem sentido. Totalmente nuas.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008


Quando renunciamos os nossos sonhos e encontramos a paz, temos um pequeno período de tranquilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós e infestar todo o ambiente em que vivemos. Começamos a nos tornar cruéis com aqueles que nos cercam, e finalmente passamos a dirigir esta crueldade contra nós mesmos. E um belo dia, os sonhos mortos e apodrecidos tornam o ar difícil de respirar e passamos a desejar a morte, a morte que nos livrasse de nossas certezas, de nossas ocupações e daquela terrível paz nas tardes de domingo...

(Paulo Coelho)
"A imaginação é essencialmente criadora e sempre procura uma forma nova."

(Oscar Wilde)
Não, caminhemos do fogo ao fogo,
Da dor apaixonada ao mais mortal prazer
Sou ainda muito novo para viver sem desejo,
E tu muito nova para gastares a noite de Verão
Com vãs questões, que os homens desde sempre
Buscaram de videntes e oráculos, sem ter resposta.
Porque, minha querida, melhor é sentir do que saber,
E a sabedoria é uma linhagem sem filhos;
Uma palpitação de amor – o primeiro fulgor juvenil
Valem bem o tesouro dos provérbios de um sábio;
Não atormentes a tua alma como filosofia morta:
Não temos nós lábios para beijar, corações para amar, olhos para ver?

(Oscar Wilde)
Escrever é arte. Até onde a gente consegue ser artista ? Ver beleza em todas as palavras, em cada papel, em cada verso. Isso sim é arte! Quando ler-se algo, faz-se uma viagem emocionante por um lugar que só você pode imaginar. As imagens incríveis, os sonhos perfeitos, aquilo tudo é fascínio. Quem dera pudéssemos viver apenas com isso: viajando num mundo surreal. Criatividade todo mundo têm. Capacidade também. E o que falta ? Coragem para entrar num lugar desconhecido.
Luz do sol que brilha nos seus olhos
Como enfrento os céus do deserto
E os meus pensamentos voltam para casa
Sim, os meus pensamentos voltam para casa...

(Child of Nature - The Beatles)